29 junho, 2011

Um até logo

Hoje a tia Lyria deixou o mundo pra morar com Deus nos altos céus.
Quem um dia foi na comunidade Concórdia, certamente conheceu essa simpática mulher que sentava na segunda fileira do lado direito, cantando alto e fazendo comentários diante de certas afirmações dos pastores.
É triste pensar que não vou mais ouvir a voz dela, não vou ver ela cumprimentando pessoas na hora da Santa Ceia, ou vou pegar na mão dela. Porém, algo me alegra: a certeza de onde ela está agora. Tia Lyria encantou toda a IELB e hoje descansa com o Pai.
Lembro do último culto em que ela estava parada no banco dos meus pais e quando eu cheguei ela apenas me deu a mão e sorriu. Ela se afastou e nossas mãos, lentamente, se soltaram. Sentei no banco e sorri, feliz. Que belo jeito de dizer adeus.
Não, adeus, não.
Mas sim, um até logo.

Até muito logo, tia Lyria.

25 junho, 2011

Barquinhos de papel


Mais clichê, impossível, mas o momento requer uma citação da personagem raposa do Pequeno Príncipe. Ela diz assim:

O trigo para mim não vale nada. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...

Assim foi com o barquinho de papel. Em uma linda tarde de grenal (em que meu Inter foi campeão gaúcho), estávamos sentados no palco de um ginásio. Para ver o jogo, só quebrando o pescoço. Em meio ao nervosismo (havia mais gremistas no ambiente!), uma distração: folhas de papel prontas para virarem pequenos barquinhos e, certamente, símbolos de um dia muito especial.

Espantei-me com a declaração "não sei fazer barquinhos de papel" da Jú. Desafio aceito: ela foi ensinada a fazer o origami mais clichê da face da terra.

Tosco? Simples demais? Talvez. Porém, especial demais. Hoje ainda lembramos do ocorrido e guardamos as instruções de fazer o tal barco no coração.

Assim, um simples barco de papel não será mais um simples papel. Será uma lembrança de um momento, de uma pessoa. Um viva pra esse tal cativar!

13 junho, 2011

Resenha: O coração das Trevas

Passado no período do imperialismo inglês, o livro O coração das trevas surpreende com tamanho detalhismo e leva o leitor a sentir, literalmente, a treva presente na história.

A obra começa com alguns marinheiros incapacidados de continuarem sua viagem por causa das condições que a maré apresentava. Sem muitas opções, esperam juntos, apesar de suas diferenças.

Havia entre nós, como já disse antes, a ligação do mar. Além de manter unidos nossos corações durante longos períodos de separação, esse elo nos tornava tolerantes diante das diferenças e convicções de cada um. (CONRAD, Joseph. 1998. Pg. 6)


Quem começa narrando é um dos marinheiros ali presente, que menciona que Marlow irá contar algum episódio que ele havia vivido. Ninguém se opôs a ouvir o relato- “não havia mais nada para fazer até a mudança da maré” (CONRAD, Joseph. 1998. Pg. 12)- e, a partir desse momento, Marlow conta de seus tempos em que navegou, exclusivamente, por águas doces.

A voz que narra é a do próprio Marlow, com raros comentários do primeiro narrador. A história começa com a entrada do jovem na Companhia por curiosidade de conhecer um determinado rio que via nos mapas. Com ajuda de sua tia e da má sorte de outro marinheiro- que morre- ele alcança seu objetivo e ruma à África. No primeiro posto em que para, fica alguns dias até conseguir consertar o seu barco e seguir para sua missão. É nesse local que ele toma conhecimento sobre o Sr. Kurtz, a quem ele iria buscar no Posto Central, por não ter mais condições de continuar em seu posto. O Kurtz é um personagem muito curioso: até quase o final da história, pouco se sabe sobre ele. Só o que era dito pelos outros sobre sua reputação, que era um homem muito especial e dedicado à exploração do marfim, sendo o destaque da Companhia. Aos poucos, Marlow passa a admirar o Sr. Kurtz, criando uma imagem idealizada dele.

Para chegar ao posto do Sr. Kurtz, Marlow encontra muitas dificuldades e armadilhas. No caminho, passa por um posto abandonado, dando a entender que o Sr. Kurtz já havia morrido naquele local. Marlow, porém, continua sua viagem e não tarda muito para mais uma surpresa aparecer: uma forte neblina o cerca, juntamente com sons de nativos vindo das margens. Logicamente, Marlow conclui que não haveria como eles serem atacados, já que os inimigos também não tinham visibilidade.

Percorridos mais alguns quilômetros, já sem neblina, o ataque acontece. Dentre flechas e tiros sendo disparados de ambos os lados, um dos homens que trabalhava na cabine com o Marlow é acertado. Nesse momento, o capitão, pela primeira vez, consegue enxergar uma pessoa, e não um escravo.

(...) e seu olhar brilhante e inquiridor nos envolveu a ambos. Olhava como se fosse em breve colocar-nos uma questão numa linguagem ininteligível; mas morreu sem emitir um som, sem movimentar um membro, sem contrair um músculo. (...) O brilho de seu olhar inquiridor logo desvaneceu numa ausência vidrosa. (CONRAD, Joseph. 1998. Pg. 88 e 89)


Aquilo o toca e, contrariando os olhares famintos dos canibais que trabalhavam no barco, o homem foi jogado no rio.

Um pouco mais adiante, Marlow chega ao posto do Sr. Kurtz. Enfim, ele conhece o famoso homem de quem tanto ouvira falar nos últimos tempos e comprova com os próprios olhos que ele não se encontra mais com saúde física, nem mental. Marlow leva-o dali para que ele pudesse receber tratamento apropriado longe dos selvagens, mas Kurtz não resiste e morre no caminho.

Marlow guarda consigo alguns pertences que o Sr. Kurtz havia lhe entregado e também o segredo do estado final daquele homem. Isso é feito para honrar e manter a reputação de Kurtz na Inglaterra.

Um ano depois do ocorrido, Marlow encontra a amada de Kurtz para entregar-lhe os papéis que haviam ficado com ele. Aquela mulher falou de Kurtz com tanta admiração e amor, que Marlow foi obrigado a mentir quando lhe foi perguntado quais tinham sido suas últimas palavras. “A última palavra que pronunciou foi... seu nome.” (CONRAD, Joseph. 1998. Pg 147)

Marlow calou-se e continuou sentado ali, um tanto afastado, indistinto e silencioso, como um buda em meditação. Ninguém se moveu por algum tempo. (...) O alto-mar estava bloqueado pou uma massa de nuvens negras, e o calmo curso d’água que levava aos extremos confins da Terra fluía sombrio sob um céu encoberto...parecendo dirigir-se ao coração de imensas trevas. (CONRAD, Joseph. 1998. Pg 147 e 148.)


Há uma grande crítica ao imperialismo inglês da época que, para conseguir suas riquezas, não respeitaram os povos que já viviam na África. Assim também aconteceu com o Brasil na época do descobrimento. Os portugueses simplesmente exploraram o local e impuseram sua cultura. Hoje, acontece o mesmo, através do capitalismo. Até se diz que não há uma única cultura em cada país, mas sim uma fusão das mais diversas ideias de todo o mundo.

Também pode-se interpretar com a obra o quão vulnerável o ser humano é. O Sr. Kurtz, que era considerado um gênio, acabou se confundindo com a cultura selvagem, ficando louco. A mente é, com certeza, a parte do corpo mais difícil de ser cuidada, pois todos os dias é bombardeada por novas ideias. Pessoas sem uma base concreta, perdem o controle e depois, para reverter tudo isso, é muito complicado, ou até irreversível.

A obra de Joseph Conrad foge do óbvio e surpreende a cada página. Em certos momentos, é uma leitura cansativa, por ter muitos detalhes, mas logo o suspense prende o leitor e compensa a lentidão. É por meio dessa técnica que o autor passa a essência do texto. Quanto mais Marlow adentra na mata, mais densa é a narrativa e mais perto do coração das trevas o leitor se encontra.

04 junho, 2011

um dia muda

Mas é sempre igual


Teu instinto aponta que tem algo errado
Mas teu coração não aceita


Tu se machuca
Mas o ego impede que essa dor transpareça


Não espere demais
Mas não perca a esperança

O ciclo recomeça
Do zero, como sempre
Quem sabe um dia ele desvia pro lado certo?