17 setembro, 2011

Coração vira-lata

Quem um dia observou um cão vira-lata, certamente se impressionou com a esperteza desse ser.

Essa semana presenciei uma matilha de vira-latas caminhando em uma avenida muito movimentada. Comentei com meu pai "esses cães não morrem fácil, eles são muito espertos". Alguns poucos minutos quase infartei ao ver um deles tentar atravessar a rua e quase ser atropelado. Claro que ele conseguiu passar, ao que meu pai comenta "eles não morrem fácil".

O objeto de comparação é o cão mimadinho, de raça. Esses, apesar da beleza, nem sempre são tão espertos. Por que? Porque eles não precisam se preocupar em atravessar ruas e quando, eventualmente, eles escapam de suas casas, o destino nem sempre é feliz.

Penso que o coração seja assim também. Passamos anos escondidos dentro de casa, com amor paternal e a esperança de um príncipe encantado. Um dia escapamos das grades, conhecemos aquele guri que nem precisa ser lindo, mas é simpático e POOM! somos atropelados. Sem mais nem menos ficamos estatelados no chão sem nem saber o que passou por cima de nós.

Aos poucos, passamos a viver mais na rua, viramos vira-latas, mais espertos. Não nos apaixonamos mais por qualquer sorriso.

Mas um dia isso muda. Talvez conseguiremos atravessar a rua movimentada em segurança e ficar do lado bom para sempre. Deixamos de morar nas ruas para pertencer a um lar, com amor.

Só o que não podemos esquecer é que vira-latas não morrem fácil, mas eles também são atropelados. E olha que eles são tão espertos...