Não são raros os momentos que me pego pensando na vida e o jeito que ela é. Sinceramente, muitas vezes não vejo saída. Não é por que a gente mal nasce e começa a morrer, como alguém sugeriria, mas sim porque a sociedade, em geral, é uma grande decepção. Vejo e me espanto que o pensamento de coletivismo é quase inexistente. É cada um olhando para o seu umbigo e já eras. O exemplo clássico é aquela pessoa que tem o entendimento filtrado: só ouve o que quer, o que lhe agrada. Que raios de democracia é essa que eu só aceito o que eu quero? E desde quando relacionamentos podem ser comparados à democracia? Sei lá, sei lá.
Eu tento sempre manter a minha fé na humanidade. Normalmente o que acontece é que uns poucos aprontam e a gente desconta a raiva no mundo inteiro. Reconheço, essa é a verdade. Não é que a humanidade seja ruim. O problema é que achar os bons é raro. Será?
A gente nem sabe que males se apronta
Fazendo de conta, fingindo esquecer
Que nada renasce antes que se acabe
Pensando nisso, quis elaborar uma lista de X motivos para ainda acreditar que, sim, o mundo é bom. Sim, há esperança! Melhor do que falar, é ver. Essas imagens valem mais que quaisquer palavras.
Enfim mais um ano chega ao fim. Retrospectivas são necessárias para percebermos o quanto crescemos (ou não) nos últimos 365 dias. No fim do ano passado escrevi um post que, modéstia à parte, está muito bom. Talvez a "eu" de um ano atrás tivesse mais inspiração. Ou é só esse momento que me impede de formular palavras bonitas. Talvez porque esse ano eu esteja encerrando o ciclo com outro humor, com outras histórias, com outra perspectiva.
Sempre tento manter o otimismo, mas confesso que tem ficado difícil. De fato, a cada ano a vida me mostra que sempre há outra maneira de levar uma rasteira. Às vezes ela nem muda o jeito de te derrubar, mas te mostra que tem coisas na vida que jamais iremos aprender.
E desses tombos eu não me arrependo. Por mais que doa, por mais que eu desejasse nunca ter precisado vivenciá-los, eu sei que eles foram necessários. Como já disse aqui nesse blog, esses sentimentos servem, especialmente, para nos lembrar de uma coisa muito importante: que estamos vivos. Quebrados, no fundo do poço ou por cima da carne seca: nós estamos vivos.
Claro, não vou bancar a emo aqui e dizer que tudo em 2012 foi uma porcaria (as coisas que mais machucam são as que a gente mais lembra, não é?), porque não foi. Eu cresci muito nesse ano. Como profissional, como estudante, como pessoa. Conheci pessoas, aprendi a aceitar outras e tentei ser o melhor que pude. Sim, errei muito também. Guardei e guardo dentro de mim sentimentos dos quais não me orgulho. Se eu pudesse, jogaria eles pela janela. Mas infelizmente, essa sou eu. Eu guardo rancor. Só o tempo me arranca essas coisas de mim. Queria poder fazer o tempo passar mais rápido.
Assim como adquiri esses sentimentos ruins, também me livrei deles. Pessoas que eu não conseguia desejar nem um bom dia, hoje desejo, de verdade, que um dia possamos nos falar de novo. Sinto muito falta dessas pessoas. Queria jogar meu orgulho de lado e dizer isso para elas. Dizer o quanto senti a falta delas e de como meu ano poderia ter sido diferente se eu as tivesse comigo. Essas pessoas sabem quem elas são e espero que elas me perdoem.
Eu conheci lugares incríveis. Fui à cidade maravilhosa duas vezes. Finalmente entendi porque babam tanto ovo para esse local. Eu me senti bem lá, fiquei feliz de perceber meus sonhos são muito maiores do que essa cidade de São Leopoldo pode suportar. Visitei pessoas importantes para mim, dediquei meu tempo a elas que merecem muito mais.
Sonhei. Perdi esperança. Recriei esperanças e, de novo, as perdi. Conheci ideias novas e geniais, abri a cabeça e hoje vejo o mundo com olhos diferentes. Não sou nenhuma filósofa, mas sei que não estou mais acomodada nesse planeta. Algo me acordou de um sono profundo em que eu vivia há anos. Hoje não aceito tudo que me impõe. Eu tenho um olhar crítico sobre o mundo e espero que cada vez mais eu possa ser crítica.
Conheci músicas novas, baixei músicas sertanejas e até comprei um cd de samba. Assisti à novela (saía correndo da aula para pegar o final todos os dias), cantei no coral, toquei violão, li poucos (mas bons) livros, inclusive de autoajuda.
Experimentei comida chinesa, tentei inventar um jeito novo de fazer arroz, conheci novos temperos.
Ministrei meu dinheiro, gastei mais que devia, mas economizei no mês seguinte. Emprestei dinheiro e esqueci os devedores.
E olha só: sobrevivi ao fim do mundo!
É, até que 2012 não foi tão ruim. Ele foi exatamente o que eu precisava para que o próximo ano seja melhor ainda. Sonhos estão sendo encaminhados no momento e mal posso esperar para eles darem certo. Porque eles vão dar certo. Porque quem acredita sempre alcança. E eu acredito: 2013 vai ser sensacional.
Eu cresci no meio da saudade. Nunca tive vó e vô morando perto. Nunca tive tios, tias e primos morando perto. Sempre na saudade. Não acho que isso me faça menos que os outros, não acho que sou digna de pena. Talvez isso tenha me feito forte. Ou fraca, por simplesmente incorporar esse sentimento.
Adoro os falantes da língua portuguesa que se gabam por ser o único idioma que tem uma palavra para expressar esse sentimento de falta. Saudade. É nossa. Só nossa. E por que isso é bom?
Não sei, mas é nossa. E eu tenho não só uma saudade, mas muitas. Sinto saudade da minha família que mora longe, daqueles que já foram para aquele lugar melhor, de amigos que nunca mais vi ou falei. Sinto saudade de épocas, de momentos que valeriam a pena serem vistos de novo. Mas a minha saudade principal é de mim mesma.
Vejo fotos e vídeos de uma Natália que não existe mais. Uma criança espontânea, alegre e terrível. Por que não tenho a coragem da Natália de 5 anos? Será que ela morreu? Será que ela vive em mim?
Só sei que sinto saudade. Lembro de momentos e meu coração chora. Lembro de pessoas que os caminhos da vida deram outro rumo. Que saudade. Guardo todos os bons e maus momentos, seja na memória, seja nos meus álbuns de fotografia. A saudade é nossa. Nós, humanos, independente do idioma. O que importa é sentir. Às vezes é isso que nos lembra do mais importante: que estamos vivos.
Certa noite dessas, ocasionalmente andando numa Oktober Fest, um desejo estranho me consumiu. Vi pessoas fumando e desejei participar. Como nem me ofereceram, escapei dessa. Ou será que escapei?
Isso me fez refletir. Muito tempo antes de eu estar perto daquele cigarro, eu já estava corrompida. A minha mente, naquela hora uma inimiga, já estava corrompida há tempos. O que me separou do ar limpo e da fumaça foi apenas a falta do convite.
Fiquei um pouco chateada, pensando em como cheguei a esse ponto de ter a alma corrompida. Eu, que não fumo e sempre repudiei o ato, queria um cigarro. E eu que não amo você.
Saí de lá suando. Senhor, como estava quente. Será que esse aeroporto não tem ar condicionado? Será que esse ar condicionado é tão ruim que não esfria o ambiente? Será que tá tão calor que o ar condicionado não dá conta? Enfim, pouco importava.
No trajeto, a surpresa: não teríamos venda de produtos, porque havia muita turbulência e nem os aeromoços estavam autorizados a tirar o cinto. Pouco me importava também. Eu tinha meu livro, meu iPod e nem a pau que iria gastar 4 pila em uma água. (Porque passam a faca assim na gente?!)
O livro que levei e devorei foi o "Nas entrelinhas do horizonte", do Humberto Gessinger (recomendo a leitura, até empresto se for necessário, hihi). Tão belo quanto as músicas do Engenheiros do Hawaii. Gessinger capta as sutilezas da vida. É impressionante. Com humor, ele faz a crítica e, melhor, provoca uma reflexão.
Em uma sociedade tão automatizada, ler sobre as particularidades da vida é fantástico. Sim, a vida não é automática!! Pasmem! Nossas ações importam, nós ainda somos humanos!! Ou será que somos?
Em SP tem mercados que funcionam 24 horas por dia. Não para nunca. Já parou para refletir sobre isso? Uma cidade que não dorme. Isso não pode ser saudável; isso não pode ser natural.
Enfim, cheguei na capital rio grandense com um clima totalmente diferente. Chovia e estava friozinho. "Droga", pensei. Estava de sandália. E eu havia voado com a Webjet, companhia aérea que faz a gente caminhar pela "pista" para chegar no aeroporto.
Sem dúvida que eu ia molhar o pé. Tentei desviar das poças, mas não adiantou. Por um breve instante me irritei. Poxa, meu pé estava molhado! Mas, de repente, o pensamento mudou: "Opa, meu pé está molhado!". Era apenas a chuva; era a chuva! A água que cai do céu e molha plantações, abastece rios e leva embora o pó das ruas.
Não sei se foi um momento inspirado pelo Gessinger, mas eu fiquei feliz. Senti-me abençoada por ter a chuva, por poder sentir ela nos meus pés. Que momento lindo. Que prova que a vida é bela. Só precisamos enxergar.
"Se tem alguém aí prisioneiro da melancolia-banzo-spleen-blues que costuma pintar no fim dos ciclos, sem saber o que fazer, achando que seu futuro não vale uma moeda de 11 centavos, deixo meu especial abraço. Enquanto abraço, sussurro: 'Vale muito mais!'"
GESSINGER, Humberto. Nas entrelinhas do horizonte, pg 154.